[Meus
comentário seguem entre colchetes. – MB] É deus! É assim mesmo como se
lê no título: em letras minúsculas. Por que eu deveria escrever o
substantivo “deus” com um dê maiúsculo, se para mim tal entidade não
existe? Por que diferenciar o “deus” único com a sagração de uma
maiúscula se, para mim, ele em nada se diferencia dos deuses do panteão
greco-romano, dos santos da umbanda e do candomblé, das divindades
animistas adoradas pelos antigos egípcios ou por tribos amazônicas e
africanas nossas contemporâneas? Sou ateu. Sou agnóstico. Escolha o nome
que preferir. Não sou chato. Nunca procurei vender o meu peixe e
convencer ninguém a abandonar as suas crenças e a sua fé. É por isso que
me incomoda a gana evangelizadora dos tementes a deus [tementes esses
que não têm acesso à grande imprensa, como este pregador
ateu/agnóstico]. Quantas vezes eu fui obrigado a atender o interfone em
pleno sábado à tarde para ouvir a voz de alguma senhora no portão de
casa dizendo trazer uma mensagem de conforto ou uma palavra de fé? “Não,
obrigado. Não estamos interessados. Nesta casa somos todos ateus”,
costumo responder. [Pronto, é só fazer isso. Por que se irritar?]
Intolerante, eu? Sim, eu sei, não precisaria ser grosso. Mas por acaso
sou eu quem toca a campainha alheia com o firme propósito de mudar as
convicções íntimas do outro? Ser grosso é um atenuante eficaz para
afugentar missionários do meu portão, evitando que comecem com a sua
arenga evangelizadora. Se eles creem num mundo assombrado pelo demônio,
por que eu não deveria fazer uso da sua crença no tinhoso para
enxotá-los da minha soleira? [E se esse ateu cresse (com o perdão do
trocadilho) possuir informações que poderiam beneficiar as pessoas no
que diz respeito à saúde, aos relacionamentos, etc., e guardasse isso
para si, não seria egoísta? Não seria mesquinhez crer possuir algo de
bom e não querer partilhar isso com os outros? Por que esse articulista
ateu julga tão mal as intenções dos crentes, sendo que, sabidamente são
justamente os crentes que mais abandonam sua “zona de conforto” para
realizar obras assistenciais? Infelizmente, essa rusga dele com os
cristãos não é de hoje, como você lerá na nota logo abaixo.]
Argumentar significaria prolongar a conversa e a perda de tempo. E o
tempo é o bem mais escasso da vida [para um ateu, de fato, o tempo é o
bem mais escasso. Para um cristão, é a vida humana, especialmente a
eterna. Por isso o cristão “perde tempo” se preocupando com pessoas como
Moon]. Começa-se a perdê-lo no instante em que se nasce. A morte,
seguida pelo esquecimento, é o denominador comum da vida. Por que esta é
uma ideia tão desconfortável? A vida precisa de um sentido?
[Sinceramente, não sei como gente como Moon consegue viver sem um
sentido para a existência. Vive pelo prazer e só? Se não há um sentido,
nem um referencial moral, “matar ou amar alguém são coisas moralmente
equivalentes. Pois em um universo sem Deus, não há bem nem mal – há
apenas ‘a realidade nua e crua, a realidade sem valor da existência’
(Sartre), e não há ninguém para dizer se você está certo ou errado” (Em Guarda, p. 39).]
O universo tem 13,7 bilhões de anos. A Via Láctea tem 13 bilhões de
anos. O Sol e a Terra têm 4,6 bilhões de anos. Logo depois disso, tão
logo a Terra teve condições de abrigar vida, esta evoluiu e prosperou.
As evidências mais antigas de vida têm 3,8 bilhões de anos. Por quatro
quintos de sua história, a vida na Terra se manteve invisível.
Limitou-se ao plano bacteriano, unicelular. Seres complexos,
pluricelulares, os ancestrais dos animais e das plantas, evoluíram há,
talvez, 800 milhões de anos. [Aqui o ateu manifesta fé cega no
naturalismo filosófico (que não pode ser submetido ao crivo do
naturalismo metodológico) e no darwinismo hipotético. E critica os
crentes...] [...]
Há 70 mil anos o cérebro humano deve ter assumido a sua capacidade
plena, armando-nos com a melhor das ferramentas e a pior arma que
qualquer predador desejaria: a consciência. Com ela brotaram nossos
sonhos, nossas angústias, nossos desejos, nossa inconformidade com a
condição humana e nossa busca por um sentido para a vida. [Não tenho fé
suficiente para crer nessa narrativa lunática! Se o cérebro humano é o
ajuntamento ao acaso de matéria, um amontoado de moléculas que
milagrosamente se organizou no quilo e meio de matéria mais complexa do
Universo; se o cérebro é apenas isso, por que devo confiar no julgamento
que o cérebro de Moon faz da realidade? Por que devo confiar no
julgamento de qualquer cérebro? E que vantagem evolutiva a busca por um
sentido para a vida nos conferiria? Seria pura perda de tempo e energia!
Mas eu sabia que Moon ia escrever o que escreveu a seguir:]
A fé pode ter surgido como uma invenção intelectual que fornecia sentido
à vida num mundo infestado por feras e açoitado por desastres naturais.
Na luta pela sobrevivência, a evolução da fé e do seu subproduto, a
religião, podem ter servido para amalgamar o tecido social, congregando
bandos de caçadores indefesos em aldeias e em tribos. [Claro, se não
pode vencer o inimigo, encontre uma explicação para ele segundo sua
cosmovisão. A fé é inerente ao ser humano,
então, como os darwinistas e ateus não podem negá-la, precisam
explica-la do ponto de vista naturalista. Vão para a “pré-história” (e
sempre coloco “pré-história” entre aspas, pois história somente existe a
partir do momento em que há registros escritos dela) com todos os
contos-de-fada inerentes a ela, e inventam uma explicação para a
emergência da fé: é um subproduto da evolução! Ah, francamente... A
evolução explica tudo, desde o adultério, passando pela diminuição do cérebro (e não seu esperado aumento) até o surgimento da religião. Dá-lhe teoria-explica-tudo!]
Pertencer a uma tribo era uma vantagem adaptativa considerável. Os
homens caçavam e guerreavam em grupo. As mulheres, também em grupo,
colhiam frutas e raízes, cozinhavam, teciam, pariam e cuidavam dos
filhos. [...] [E a lengalenga cavernosa de Moon prossegue. Prefiro a prosa humorada do Chesterton.]
Até o século XVI, as explicações para os mistérios da natureza e as
respostas para as nossas dúvidas existenciais eram fornecidas com
exclusividade pelas diversas religiões, seus dogmas e mitos. Aí, há 400
anos, veio Copérnico. Este foi seguido por Galileo, e depois por Kepler,
e então por Newton. A obra destes gigantes tomou das mãos do divino o
poder de explicar a natureza. [Caramba! Como Moon consegue ser tão
parcial?! Por que omite o fato de que essa tríade de cientistas
fundadores do método científico fazia ciência justamente para entender
como o Universo foi CRIADO? Copérnico, Galileu, Newton, Leibniz, Pascal e muitos outros eram cientistas cristãos e crentes na Bíblia. Newton foi tremendo teólogo. Com todo respeito, Moon precisa sair do mundo da Lua.]
Hoje sabemos como e quando o universo surgiu [Verdade? Não é o que dizem
os cosmólogos]. Desvendamos os segredos da vida [Verdade? Não é o que
dizem os biólogos que têm os pés no chão]. Fomos à Lua. Dividimos o
átomo. Sabemos que lá longe, o espaço escuro está coalhado por centenas
de bilhões de galáxias, cada uma com bilhões de estrelas, em torno das
quais há bilhões de planetas.
Se a brevidade com que a vida fincou raízes na Terra é um parâmetro que
pode ser generalizado, então o universo está infestado de vida – não
necessariamente de vida inteligente [mais uma prova de fé ou de
tendências lunáticas; probabilidades sem evidências não provam nada].
Novamente, se as evidências terrestres podem servir de parâmetro, a vida
inteligente não seria a norma, mas uma exceção à regra. Por que a
inteligência evoluiu na espécie humana há 200 mil anos e não em alguma
salamandra que viveu há 270 milhões de anos, no período Permiano, quando
a biosfera era tão complexa quanto a atual? [Não ocorre a Moon que a
inteligência é inerente aos humanos, posto que são imagem e semelhança
do Criador inteligente.]
Na história da vida na Terra, a evolução da consciência é um acidente de
percurso. Neste sentido, nós somos privilegiados e vivemos num momento
mais do que especial. Não vivemos mais num mundo assombrado pelo
demônio. Graças à ciência, o bicho homem descobriu enfim qual é o seu
lugar no cosmo [e qual é?]. Se em algum momento nos 4,5 bilhões de anos
deste planeta existiram deuses, então eles somos nós. [E Moon chega ao
ponto! O ápice do pensamento darwinista que reflete o engano primordial
daquele que adora ser tido como inexistente. Lá no Éden, Satanás, usando
como médium uma serpente, disse para a primeira mulher: “Sereis como
Deus” (Gn 3:5). Hoje ainda o inimigo de Deus se vale de subterfúgios
para enganar os incautos. O “médium” dele, agora, são teorias e
filosofias que ensinam a mesma coisa: “Sereis como Deus”, com uma
variante: “Deus não existe; vocês serão deuses.” Como escreveu William
Craig, “se Deus não existir, isso significa que o ser humano e o
Universo existem sem um propósito – uma vez que o fim de tudo é a morte –
e que vieram a existir sem propósito algum, uma vez que são meras obras
do acaso. Em síntese, a vida é algo completamente sem razão. [...] ‘Se
Deus está morto, o homem também está’” (Em Guarda, p. 41).]
Ainda assim, entra ano e sai ano, em qualquer região do planeta, em
sociedades ricas e também nas menos desenvolvidas, toda a vez que se faz
uma pesquisa para tentar aferir o grau de religiosidade de determinado
país ou extrato da sociedade, o resultado é sempre o mesmo.
Repetidamente, 99% dos entrevistados dizem ter alguma forma de fé ou de
espiritualidade, afirmam pertencer a uma religião formal, crer num deus
ou em uma entidade criadora. Eles creem na vida eterna, na vida após a
morte, em reencarnações, no sobrenatural, em anjos e em demônios.
Consistentemente, só 1% dos entrevistados afirma não ter fé nem
religião. São os ateus, os agnósticos, dê o nome que preferir. Muito
prazer. [E viva Moon, no alto de sua lua de marfim, considerando-se
parte do grupo de 1% das únicas pessoas que, para ele, podem ser
chamadas de “consistentes”! E todo o resto da humanidade é composto por
gente inconsistente, burra, iludida e boba, termo que Moon omitiu aqui,
mas que já usou no passado. Leia a nota abaixo.]
(Peter Moon, Época)
Nota: Moon pode pregar o que quiser, mesmo usando a tribuna do site de uma revista supostamente laica como a Época.
O que ele não pode é ser desrespeitoso, como quando chamou de “bobos”
os 40% dos norte-americanos que acreditam na historicidade do relato de
Gênesis – na verdade, xingou, por extensão, todos os criacionistas
bíblicos (confira aqui).
Nunca me esqueci desse exemplo de mau jornalismo – sim, porque o que
ele escreveu naquela ocasião (1999) foi uma reportagem e não um panfleto
ateísta, como é o caso do texto acima. Termino com mais um pensamento
de Craig: “Para aqueles que negam que a vida tenha um propósito, a única
forma de ser feliz é criando algum propósito para a vida. [...] Esse é o
tenebroso veredicto proferido contra o homem moderno. Para sobreviver,
ele tem que viver se enganando” (Em Guarda, p. 48, 51). Isso é o que significa viver no mundo da Lua e ter coragem de olhar de cima para baixo para 99% da humanidade.[MB]
Como disse Einstein: “O homem que considera sua vida sem sentido, não é simplesmente um infeliz, mas alguém que dificilmente se adapta à vida.”
