terça-feira, 29 de novembro de 2011

Adventista rima com evangelista

“Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário.”
Antes mesmo de eu ser batizado, em dezembro de 1991, meu “pai na fé”, o Vanderlei Ricken, me colocou para trabalhar – missionariamente falando. Na época, ele ministrava estudos bíblicos para um jovem em nossa cidade, Criciúma. Na segunda ou terceira lição, o Vanderlei me passou a responsabilidade: “Daqui para frente, você vai apresentar os estudos e eu farei apenas alguns comentários.” Senti o peso do desafio, mas resolvi aceitar. Eu mesmo havia conhecido a mensagem adventista através de estudos bíblicos. Então, tudo o que fiz foi partilhar com aquele jovem o que eu estava aprendendo nas Escrituras Sagradas. E, nessa partilha, posso dizer que o maior beneficiado fui eu.
Posteriormente, o Vanderlei e eu resolvemos evangelizar um bairro que fica numa parte alta da cidade. Todos os sábados, nós caminhávamos uma longa distância, debaixo de sol, para visitar algumas famílias e explicar as verdades bíblicas para elas. Confesso que em alguns dias bem quentes de verão me senti tentado a ficar em casa, lendo um bom livro, sentado em frente ao ventilador. Mas então chegava o Vanderlei, me convidava para subirmos o morro e lá íamos nós. As vantagens de se trabalhar em duplas… E quer saber? Quando voltava para casa, cansado, desejando um bom banho e um lanche, eu agradecia a Deus por ter me dado o privilégio de falar do amor dEle. Nada podia se comparar ao senso do dever cumprido e à leveza da alma pelo fato de ter passado algumas horas falando da esperança que ardia em meu coração.
Não sei se o Vanderlei tinha exata noção do que estava fazendo, mas isso se chama discipulado. Não basta evangelizar as pessoas, temos que transformá-las em evangelistas. Aliás, adventista rima com evangelista. Num mundo que se desespera com tanta coisa ruim, com notícias desoladoras e com filosofias falidas, como podemos ficar calados com tamanho tesouro que nos foi legado?
E tem mais: se você não encontra prazer em falar de Cristo para as pessoas deste lado da eternidade, sinto dizer-lhe que a missão não termina aqui. Quem você acha que vai pregar para aqueles que ressuscitarão como crianças? Quem você acha que vai dar estudos bíblicos para pessoas como o “bom ladrão”, que aceitou a salvação, mas desconhecia assuntos como a justificação pela fé e o santuário celestial, por exemplo? Agora, se você aprecia falar do amor de Deus, tenho boas notícias: seremos embaixadores do Pai nos mundos não caídos! Vamos falar para eles da nossa experiência. Quero ter o privilégio de explicar para o meu irmão Marcelo (que eu não conheci, pois faleceu aos quatro meses de vida, antes de eu nascer) o significado das feridas nas mãos do Salvador (Zc 13:6). Quero contar para o Universo da graça perdoadora de um Deus que viu em mim valor tão grande que enviou o próprio Filho para morrer e pagar o meu resgate.
Sempre acreditei no poder que reaviva da pregação. Como poderia dar estudos bíblicos para alguém se eu estivesse vivendo em pecado? Como poderia falar de princípios que eu não estivesse vivendo? Como poderia convidar alguém a se tornar cristão, se eu não sentisse a alegria de pertencer à família de Deus? Só podemos dar o que temos. E somente teremos prazer em dar aquilo que experimentamos. Do contrário, nosso discurso será vazio.
Reavivamento e reforma dependem da íntima comunhão com Deus por meio do estudo da Bíblia e da oração, mas têm que ver, também, com o testemunho, afinal, “todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário. Aquele que bebe da água viva, faz-se fonte de vida. O depositário torna-se doador. A graça de Cristo na alma é uma vertente no deserto, fluindo para refrigério de todos, e tornando os que estão quase a perecer, ansiosos de beber da água da vida” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 195).
Você já saciou sua sede na Fonte? Tem essa água para oferecer? Há muita gente morrendo neste deserto ressecado chamado Terra. Ao estender-lhes o copo da água viva, você mesmo sentirá o refrigério que ela opera no coração.
Michelson Borges é jornalista e mestre em teologia