terça-feira, 25 de outubro de 2011

Santidade Vivificante

Fui confrontado pelas palavras: “Sede santos, porque eu sou santo.” (1 Pedro 1:16). Eu já havia lido essa passagem muitas vezes antes. Para ser franco, normalmente lia apressadamente essas palavras, não desejando enfrentá-las. Ser santo não era um tema que eu queria novamente confrontar. Eu havia tentado a vida toda. Havia lutado para conseguir a vitória sobre o pecado, apenas para fracassar repetidas vezes. Porém, agora, ao ler as palavras não  pude passá-las por alto.
Lutei com a convicção por vários meses. Podia ler outras passagens, meditar em outros conceitos bíblicos, mas a convicção seguia, eu necessitava estudar o conceito da santidade. Por fim, abri a Bíblia on-line e criei uma lista de cada passagem que lidava com o tema da santidade. Comecei estudando cada verso, comparando-o com outras passagens. Então, cheguei a Levíticos 20:7, 8. Subitamente, o tema da santidade assumiu uma nova dimensão dinâmica. “Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o SENHOR, vosso Deus. Guardai os meus estatutos e cumpri-os. Eu sou o SENHOR, que vos santifico.”
Essas foram boas notícias! A santidade não é algo que eu tenho de produzir. Antes, é uma promessa do que Deus fará em minha vida ao eu caminhar com Ele.
Essa nova compreensão criou um intenso interesse em mim de seguir estudando o assunto. Mais do que isso, o viver santo se tornou uma sagrada aventura, explorando o que Deus tinha a oferecer.
O Chamado de Deus à Santidade
A Escritura é clara: Deus deseja que sejamos santos. Ele nos chama à santidade. Primeiro encontramos esse chamado em Êxodo, onde Deus afirma que Israel deve ser uma “nação santa” (Êx 19:6), e “homens consagrados” (Êx 22:31). O foco principal no livro de Levíticos é a santidade. Ali encontramos o chamado para nos consagrarmos e para sermos santos com base na santidade de Deus (Lv 11:44, 45). Em Levíticos 20:7, 8 Deus associa a santidade à obediência. No verso 26, Deus declara que nos separou das nações circunvizinhas.
O chamado à santidade se torna ainda mais forte em Hebreus 12:14: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” 2 Pedro 3:11, 12 apresenta a segunda vinda de Jesus Cristo como a motivação para viver uma vida santa.
Não há dúvida: A santidade é necessária. Deus quer que sejamos santos. Deus nos chama para a santidade. Mas o que isso significa? Como conseguirmos a santidade? Como evitar os extremos do legalismo ou da aceitação tolerante de nossa pecaminosidade?
Explorando a Santidade
Santo. Essa palavra nos desafia. Algumas vezes, pensamos que significa que temos de ser perfeitos. Concluímos que a tarefa é nos tornarmos sem pecado. Tentamos alcançar essa condição. Quando fracassamos, desistimos desanimados.
A palavra “santo” vem de dois conceitos bíblicos básicos. A raiz significa, no hebraico e no grego, algo, algum lugar ou alguém que é sagrado, consagrado, separado ou dedicado a Deus. Ela também incluiu obediência à lei de Deus e/ou estar sem culpa diante dEle (1Ts 5:23).
Somente Deus é intrinsecamente santo (Ap 15:4). Deus e o pecado não podem coexistir. Fomos criados à imagem de Deus, sem pecado. Deus queria que permanecêssemos separados do pecado. Era Seu desejo que nunca experimentássemos o pecado. O pecado de Adão e Eva prejudicaram o relacionamento entre Deus e os seres humanos, e se intrometeu no relacionamento. Quando não mais podíamos manter o relacionamento com Ele devido ao pecado, Ele tomou a iniciativa. Pôs em prática o plano da redenção a fim de resolver o problema do pecado. Na pessoa de Jesus Cristo o relacionamento foi restaurado.
Em um sentido muito real as palavras: “Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo.” (Lv 19:2) são uma ordem habilitante. Deus está dizendo isso porque mantemos relacionamento com Ele e porque Ele é santo, nós somos santos. Nossa condição de ser santos é determinada não por nosso desempenho, mas por Seu ato divino. “[...] mas fostes santificados, [...] em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.” (1Co 6:11). O verbo é santificar. O substantivo é santo. O adjetivo é santo. Santidade é o resultado do ato de Deus de nos separar.
Essas são duas dimensões da santidade, ser e fazer. Quando aceitamos Cristo como nosso Senhor e Salvador, Ele nos santifica e nos torna santos. Somos santos devido ao que Cristo fez ao nos separar para Seu propósito divino. Ele habita em nós (Mt 28:18-20; Ef 3:16-19), e Sua presença nos torna santos assim como o terreno da sarça ardente era santo devido à Sua presença (Êx 3). Ser santo é simplesmente viver nossa vida na realidade de ser santo em Cristo.
O ponto mais importante que devemos lembrar a respeito da santidade é sua fonte. Deus, e somente Deus, pode produzir uma vida santa. Moisés apresentou o sábado como um sinal de que Deus é Aquele que nos torna santos (Êx 31:13). Deus novamente esclarece que Ele é Aquele que produz a santidade em nós (Lv 20:7, 8).
Jesus – O Âmago da Santidade
Tão-somente necessitamos olhar para Jesus para compreendermos a santidade. Ele está no âmago da santidade em, pelo menos, três formas.
Primeira, Jesus encarnou e demonstrou a santidade em Sua vida na terra. Havia três fatores primários em Sua vida revelando a santidade: (1) Jesus tinha o coração voltado para Deus. Seu desejo era ser totalmente obediente a Seu Pai (João 14:31). Ele era totalmente dependente de Deus para sua força diária, e buscava revelar Deus aos que O cercavam (v. 9). (2) Jesus tinha o coração voltado para a santidade. O pecado não tinha poder em Sua vida (v. 30). Ele viveu dedicado aos princípios da piedade. Em Sua vida buscou manter íntima união com Deus. (3) Jesus também tinha o coração voltado para as pessoas. Ele veio para entregar Sua vida pelos pecadores (Jo 10:15-17; 15:13-15). Sua vida e morte revelaram Sua dedicação para salvar e servir os pecadores. A santidade de Cristo foi manifestada na forma pela qual Ele lidava com as pessoas.
Segunda, não há santidade em nós sem Cristo. Não podemos viver vida santa em nossa própria força, quer antes ou depois da experiência da salvação. Somente através do caminhar e da íntima conexão com Cristo encontramos a santidade. O pensamento é bonito, buscar viver como Jesus. Faça a si mesmo a pergunta: “O que Jesus faria?” Então, faça. Há apenas um problema. Santidade não é imitação, buscar fazer o que Jesus fez. Santidade é participação exatamente na vida e no caráter de Jesus.
Terceira, Ele nos deu coração santo pleno de Sua presença. Em Ezequiel 36:25-27 Deus prometeu purificar-nos e nos dar um novo coração de carne e colocar Seu Espírito em nós. O resultado produz uma vida de obediência (ver o verso 27). Quando Cristo prometeu o Espírito Santo como o outro Consolador (Jo 14:16-20), afirmou que “Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós.” (v. 20). Note a promessa de que a vinda do Espírito Santo significaria que Cristo estaria em nós.
O apóstolo Paulo deixou isso bem claro em Efésios 3:16-19:
“Para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.”
Creio que o maior desafio para o viver santo não é o mundo que nos cerca, a nossa natureza pecaminosa, ou até mesmo as tentações de Satanás. Antes, o maior desafio à santidade hoje é deixarmos de aceitar a realidade de quem somos em Cristo. Quando aceitamos Cristo, somos novas criaturas (2Co 5:17). Cristo habita em nós e somos santos. Isso nos dá o status, o ponto de partida e o poder para começar a viver uma nova vida nEle.
É importante que conheçamos quem e o que somos em Cristo. Pertencemos a Ele! Somos santos! E isso desafia tudo mais na vida ao aprendermos a viver nossa nova identidade.
Lidar com o Pecado
O João* veio assistir ao seminário sobrecarregado. Assim como muitos de nós, ele queria algo mais, porém não sabia por onde começar. Era viciado em hábitos pecaminosos e incapaz de se livrar deles. Sabia que devia abandonar seu pecado e viver nova vida, mas a realidade de sua luta o incapacitava para a jornada diária e ameaçava aliená-lo totalmente de Deus. Ela havia tentado muitas vezes confessar seu pecado e abandoná-lo. Porém, todas as vezes o problema retornava e, normalmente, com força maior. O que ele podia fazer?
A luta do João não era incomum ou anormal. A maioria dos cristãos se identifica e simpatiza com ele. Mas a Escritura tem boas notícias para nós.
Os primeiros 11 versos de Romanos 6 declaram de forma muita clara que, quando estamos em Cristo, morremos para o pecado. (Ver especialmente os versos 2, 7 e 11.) O verso 14 corajosamente proclama: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.” O verso 18 diz que fomos “libertados do pecado”, fomos “feitos servos da justiça.”
Isso é quase mais do que podemos crer. É muito claro. O poder controlador do pecado foi quebrado. O mal pode nos atormentar. Satanás nos pode tentar. O inimigo pode nos enganar, porém não mais tem o controle. Há um novo Senhor, um novo Senhor que domina nossa vida. Talvez não sintamos isso, mas enquanto estivermos em Cristo, essa é a nossa nova realidade.
Aceitar, pela fé, a liberdade do poder controlador do pecado é o primeiro passo para lidar com nosso pecado. Viver em santidade não é estar livre da tentação ou mesmo da queda e de pecar. Viver em santidade é a liberdade do poder controlador do pecado. Porém, o pecado seguirá nos tentando e atraindo. Nossas lembranças e hábitos passados nos influenciam e aguardam pelo momento de debilidade para nos apanhar.
Esse é um tema sobre o qual o apóstolo Paulo nos dá alguns conselhos bem práticos. Não podemos continuar a tratar o pecado de forma casual (Rm 6:1-3). Não mais somos “escravos do pecado” (v. 6). O elemento crucial no trato com o pecado é escolher a quem iremos servir.
“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um dos membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.” (Versos 12, 13; ver também o verso 19.)
Em Cristo temos a liberdade de escolha quanto a quem reinará em nossa vida. Temos a escolha de a quem nosso corpo irá servir. Pode ser “instrumentos de iniquidade” ou “instrumentos de justiça”. A escolha é nossa. É tempo de declararmos nossa liberdade em Cristo, liberdade para viver nova vida de obediência e serviço a Ele como Senhor.
Também devemos lidar diretamente com o pecado em nossa vida. Paulo nos diz: “[...] quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano.” (Ef 4:22). Como fazemos isso? Ao levarmos nosso pecado à cruz. Este é um processo simples: dê-lhe nome, confesse-o, clame a cura e substitua-o.
Em outras palavras, abandonamos nosso pecado ao reconhecê-lo como pecado, nós o chamamos de pecado. Com muita frequência somos muito casuais na forma de lidar com nossos pecados. Desculpamo-lo ou lhe damos outro nome. O primeiro passo é o arrependimento e o reconhecimento claro de nosso pecado. Então devemos confessá-lo. Levá-lo a Deus em total reconhecimento de que é pecado contra Ele e pedir-Lhe o perdão. Quando fizermos isso, podemos clamar pelo perdão e pela purificação (1 João 1:9). Por fim, necessitamos substituir o pecado pela justiça.
Santidade de Vida
Em Cristo somos agora livres para viver nova vida. O segredo da santidade de vida não se encontra na luta contra o pecado, ou até mesmo em abandoná-lo, como acabamos de mencionar; ele se encontra em desenvolver um novo foco em nossa vida. Novamente, Paulo nos ajuda. Ele pede que nos ofereçamos a Deus, e que ofereçamos nosso corpo a Ele como “instrumentos de justiça” (Rm 6:13). Ele nos convida a usarmos a armadura de Deus (Ef 6:11-18). Desafia-nos a nos revestirmos de nosso “novo eu” (Ef 4:24; Cl 3:10).
Paulo também nos chama a andar “no Espírito” para jamais satisfazer “à concupiscência da carne.” (Gl 5:16). Que promessa incrível! Claramente, ele contrasta os atos da natureza pecaminosa com os frutos do Espírito (versos 19-23). Ele resume tudo isso à escolha de quem será o Senhor de nossa vida a cada dia. Se escolhermos seguir o de sempre, o resultado será a vida de pecado e perversão. Se escolhermos nos sujeitar a Deus, o furto será uma vida transformada.
Como eu vivo em santidade?
De forma prática, como vivemos nossa santidade? Deus deseja que façamos escolhas de caminhar com Ele nas atividades diárias de nossa vida. Deseja que obedeçamos porque escolhemos nos submeter Àquele que nos amou com amor eterno. Lembre-se, Ele prometeu nos dar novo coração e colocar Seu Espírito em nós (Ez 36:26, 27). Ele produzirá a vida de obediência quando escolhemos caminhar com Ele.
Estes são alguns passos práticos para nos ajudar:
1. Em primeiro lugar focalizar Jesus. A cada dia, dedique alguns minutos para focalizar Sua vida e ministério quando esteve na terra e agora, enquanto ministra em nosso favor como nosso Sumo Sacerdote celestial (Cl 3:1, 2; Hb 12:2, 3). Ao focalizar nossa mente em Cristo no início de cada dia, colocamos todo o dia no contexto de Sua presença. Tudo o mais que fizermos será feito no conhecimento consciente de que Suas promessas estão conosco e de que proverão para todas as nossas necessidades.
2. Reivindicar a realidade de sua salvação e vida eterna em Cristo (1Jo 5:11-13). Esse é o ponto inicial da vida cristã. Somente na certeza de nossa salvação podemos enfrentar os desafios de cada dia. Saber que estamos certos com Deus nos ajuda a conscientemente dependermos dEle para cada respiração e agirmos de acordo durante o dia. Fica por nossa conta escolher crer que essa é nossa nova realidade em Cristo.
3. Confessar o pecado. Podemos não ser capazes de evitar a tentação, mas podemos reconhecê-la pelo que ela é, pecado. Quantos antes reconhecermos algo como pecado e escolhermos lidar com isso biblicamente, mais fácil será resolvê-lo. Quer no nível da tentação ou depois de cairmos, o processo ainda é o mesmo. Reconhecemos ou o chamamos de pecado. Confessamo-lo a Deus como pecado. Aceitamos o perdão de Deus. Então seguimos com a escolha de viver a nova vida em Cristo (Hb 12:1; Cl 3:5; Gl 2:20).
4. Entregar o controle de nossa vida a Deus como Senhor (Rm 6:13, 19). Ou Jesus é o Senhor de tudo, ou não é Senhor de nada! O segredo da vida cristã diária se encontra na entrega constante à vontade, poder e presença de Deus. É bom dar um passo mental de colocar nossa vida nas mãos de Deus para que Sua vontade se cumpra.
5. Caminhar em íntima união com Cristo. Ele habita em cada um de nós. Viva a realidade dessa união divina (Ef 3:16-19). É difícil imaginar, mas a realidade bíblica é que Deus não está apenas conosco, mas que, através do ministério do Espírito Santo, Cristo habita em nós. Novamente, podemos fazer a escolha consciente de crer ou de aceitar isso como nossa realidade. Podemos aceitar nossa sociedade com a habitação de Cristo. Tudo o que fazemos se torna cooperação com o Santo Deus, o humano unido ao divino no viver quotidiano.
A Realidade da Santidade
Assim, aqui estamos enfrentando a realidade do que Deus deseja fazer em nossa vida. Romanos 6:22 apresenta-a desta forma: “Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna.”
As promessas são verdadeiras. Deus nos torna santos. Ele nos reivindica como Sua propriedade. Ele produzirá o viver santo em nossa vida ao caminharmos com Ele.
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará. (1Ts 5:23, 24).
______________________
Ben Maxson é pastor distrital da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Paradise, Califórnia.

* Pseudônimo.