quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Além da História da Criação

Além da história da criação
Qual a importância da controvérsia?
Durante minhas reuniões de evangelismo público, rotineiramente conduzo algumas sessões de perguntas e respostas. O tema da Criação muitas vezes surge. A audiência faz perguntas como estas: “Verdadeiramente Deus criou o mundo em seis dias literais, consecutivos de 24 horas?”, “Como sabemos que Ele não levou bilhões de anos?”, “Será que de fato faz alguma diferença se os dias da semana da Criação foram literais?”, “Além do mais, se cremos que Deus deu início ao processo da criação, não é isso o que importa?”, “Por que nos deveríamos preocupar a respeito do como Ele criou?”
Essas perguntas são vitais e exigem respostas sólidas como a rocha. As implicações vão além da história da Criação. Como pessoalmente nos relacionamos com essas questões críticas determinará nossa confiança na integridade da Escritura e dramaticamente afetará nossa compreensão da importância das verdades bíblicas. Nossas respostas influenciarão diretamente nosso relacionamento pessoal com Deus.
Simpósio Sobre o Relato da Criação
Os adventistas do sétimo dia são conhecidos, por 150 anos, como o povo do Livro. A Palavra de Deus é o fundamento de tudo o que cremos e ensinamos. Embora claramente reconheçamos que toda a verdade, incluindo a verdade científica, se origina em Deus, não tentamos ver a Bíblia através dos olhos da ciência. Nossa compreensão das realidades bíblicas molda nossa visão do mundo que nos cerca. Ainda que nem sempre sejamos capazes de explicar plenamente cada detalhe dos dados científicos disponíveis, nossa interpretação desses dados é informada por nossa compreensão da Escritura. A Bíblia e a Ciência não são mutuamente exclusivas. O mesmo Deus que Se revela nas verdades da Escritura Se revelou no mundo natural. Mas, devido à consequência do pecado, o mundo natural não revela claramente a graça e o caráter de Deus. A Bíblia é nosso guia mais seguro e certo na compreensão da criação de Deus e de Seu plano para este planeta.
O relato inspirado da Escritura define abundante e claramente como Deus criou nosso mundo. O salmista declara: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles. [...] Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir.” (Salmo 33:6, 9). A Palavra de Deus foi e é a palavra da criação. O que Ele declara é tão claro como se nunca antes. Ele fala, e os mundos vêm à existência.
Na criação, Deus falou e a palavra se tornou matéria tangível. O salmista não diz que Deus falou e houve o processo de ser feito em bilhões de anos. Deus falou e tudo se fez. A epístola aos Hebreus esclarece exatamente como Deus criou nestas palavras: “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem.” (Hb 11:3) O ensino claro da Bíblia não permite a evolução da terra ao longo de bilhões de anos: na Escritura não há espaço para Deus dar início ao processo e a evolução o concluir. Deus concluiu o que iniciara na semana da Criação.
Ellen White faz este perceptivo comentário: “É unicamente a Palavra de Deus que nos dá autêntico relato da criação do mundo. A teoria de que Deus não criou a matéria ao trazer à existência o mundo, não tem fundamento. Na formação de nosso mundo, Deus não dependia de matéria preexistente. Ao contrário, todas as coisas, materiais e espirituais, surgiram perante o Senhor Jeová ao Seu comando, e foram criadas para o Seu próprio desígnio. Os céus e todas as suas hostes, a Terra e tudo quanto nela há, são não somente obra de Suas mãos; vieram à existência pelo sopro de Sua boca.”[1]
O Criador Todo-Podoroso
No relato da Criação, em Gênesis, Deus é descrito como o Criador 31 vezes. Gênesis 1:1 inicia com as palavras bem conhecidas: “No princípio, criou Deus os céus e a terra.” Duas das palavras mais significativas para criar ou fazer na língua hebraica são ‘asah e bara’. Asah significa fazer de algo já existente. Ela é usada para os inícios feitos por Deus e pelos seres humanos. Por exemplo, os seres humanos podem fazer ou criar casas, carros e roupas de matéria já existente. Bara em sua forma dominante é usada exclusivamente para Deus. Somente Deus pode bara.[2] Bara é criar algo único e especial que não existia previamente. Aplica-se somente à atividade de Deus. A expressão em Gênesis 1:1: “criou Deus”, usa bara. Aqui Deus fala um de um tipo de mundo que vem à existência. Em Gênesis 1:26, 27 a palavra bara é empregada três vezes, dando ênfase especial, para descrever Sua criação dos seres humanos à Sua própria imagem: maravilhosamente, Ele lhes dá o poder de procriarem. Somente Deus, porém, pode criar algo do nada.
Um dos grandes problemas teológicos com a evolução teísta é que ela limita o poder de Deus. Exalta a lei natural sobre o Criador da lei natural. A evolução teísta não permite que um Deus Todo-Poderoso molde miraculosamente o mundo. Ela reduz Deus à escala da imaginação humana e exalta a razão sobre a revelação. Foi precisamente por isso que a humanidade caiu no princípio. Eva deu ouvidos à voz da serpente no jardim e confinou no que seus olhos podiam ver e vez de confiar no que Deus dissera. Sua mente se tornou o árbitro final da verdade.
Certamente a razão é uma dádiva de Deus, mas deixada por si só e sem auxílio, é um guia insuficiente. Nossos primeiros pais deixaram a autoridade da palavra de Deus para a tolice de sua própria sabedoria. O perigo desse hábito é imediatamente aparente: as decisões de nossos primeiros pais foram desastrosas.
O relato de Gênesis ainda oferece mais evidência para a confiança em sua historicidade. Muitas vezes no paralelismo hebraico, uma frase inicial é explicada e expandida por uma segunda frase correspondente. O relato da Criação em Gênesis é um exemplo excelente dessa prática linguística. As expressões “Disse Deus” e “Fez, pois, Deus” são unidas em Gênesis 1:6, 7, 14, 16, 20, 21, 24, 25, 26). Quando Deus fala, Ele cria. Ele é o Todo-Poderoso. Sua Palavra realiza o que Ele declara porque Seu poder ilimitado é inerente a “toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4).
A pressuposição de que os dias da Criação não foram períodos de 24 horas e de que a semana de Gênesis não é uma semana literal com sete dias consecutivos é extremamente problemática do ponto de vista bíblico. A palavra hebraica para dia é yom. No hebraico, quando um numeral precede a palavra “dia” (yom), (primeiro dia, segundo dia, etc.) o período de tempo indicado deve ser de 24 horas.[3] Isso fica claro pela repetição da declaração: “Houve tarde e manhã”. Fica óbvio até mesmo para o leitor casual que quando Moisés escreveu Gênesis compreendia, sem dúvida, que Deus criou o mundo em sete dias literais.

A Autoridade da Palavra de Deus
Há muito mais em jogo aqui do que a duração exata da semana da Criação. Uma das principais questões implica na autoridade e na inspiração da Escritura. Visto que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino”, negar a história da Criação é negar a inspiração da Bíblia (2Tm 3:16). Tanto o Antigo quanto o Novo Testamentos estão repletos de referências à Criação. Os profetas do Antigo Testamento, os escritores dos evangelhos, bem como Pedro e Paulo, várias vezes mencionam a Criação. Para os autores bíblicos, a Criação é fato, não conjectura.
Se a história da criação for simplesmente uma linda alegoria, como muitos cristãos agora insistem, podemos de fato confiar em qualquer outra parte da Bíblia? Jesus definitivamente cria na historicidade da Criação. Falando do caráter sagrado do casamento, Ele perguntou a seus inquisidores: “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez [criou] homem e mulher.” (Mt 19:4) Jesus, o Criador, sabe mais a respeito da Criação do que qualquer ser humano, pois, de acordo com Paulo, Ele foi o Agente da Criação (Ef 3:9; Cl 1:16, 17). Não seria o cúmulo da arrogância crer que podemos saber mais que o Criador a respeito da criação? Não é tolice tentar explicar contrariamente às claras palavras de Jesus à razão humana? Não é essa a essência do grande conflito entre o bem e o mal a respeito de exaltar o orgulho humano acima da revelação divina?
Mediante a sabedoria divina, Ellen White não deixa dúvidas quanto à semana literal da criação. “O próprio Deus mediu a primeira semana como um modelo para as semanas sucessivas até o final do tempo. Como todas as outras, consistiu de sete dias literais.”[4]
O Fundamento da Verdade Bíblica
No modelo evolutivo, proposto por Charles Darwin e sucessivamente refinado durante os últimos 150 anos, a morte é um componente necessário do progresso evolutivo. A seleção natural ensina que as espécies mais adequadas sobrevivem e as mais fracas morrem. Nesse cenário a morte é crucial porque permite que as espécies mais fortes vicejem. Por conseguinte, a morte teria ocorrido por bilhões e anos antes de os seres humanos evoluírem.
Não há como harmonizar esse conceito com o registro bíblico. Na Escritura, a morte é um inimigo que surge em decorrência do pecado, “porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). A morte entrou neste mundo como resultado da desobediência de Adão e Eva: ela nunca fez parte do plano original de Deus. Falando da segunda vinda de Cristo, Paulo afirma: “O último inimigo a ser destruído é a morte.” (1Co 15:26) A premissa envolvida na teoria da evolução mina o plano da salvação, conforme revelado na Palavra de Deus. Por que Jesus teve de morrer se a morte fazia parte do plano original de Deus? Se a raça humana está constantemente evoluindo em algum tipo de ordem superior de seres mediante o processo evolutivo, qual seria o propósito para o plano da salvação?
A teoria da evolução também assalta cada uma das verdades bíblicas principais, começando com o sábado. Se os dias da criação foram longos períodos de tempo indefinido, qual a importância do sábado, afinal de contas. Como o sábado poderia ser memorial de algo que nunca ocorreu? Deus escreveu o mandamento do sábado com Seus próprios dedos sobre tábuas de pedra. O quarto mandamento conclui com estas palavras: “porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.” (Êx 20:11). Negar a criação em seis dias literais é minar o mandamento do sábado e desafiar a autoridade da declaração do próprio Deus a respeito de Sua atividade criativa. Ela levanta questões a respeito do conhecimento, sabedoria, poder e integridade de Deus.
Não é por acaso que exatamente quando Deus suscitou um movimento no tempo do fim para proclamar o evangelho eterno, no contexto das três mensagens angélicas a “todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7:9), Charles Darwin concluiu seu primeiro rascunho Sobre a Origem das Espécies. Em Sua infinita sabedoria, Deus previu que essa teoria enganosa da origem da Terra minaria a fé de milhões. Assim sendo, enviou um apelo urgente nos últimos dias, à luz da hora do juízo para chamar homens e mulheres dizendo: “adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap 14:7). O sábado não é apenas um memorial da Criação; é também um baluarte contra a evolução ateísta. É um lembrete semanal de que fomos criados por um Deus amoroso.
Respostas da Criação às Grandes Questões da Vida
As grandes questões da vida com as quais os filósofos se têm debatido ao longo dos séculos são:
De onde viemos? – A questão da origem.
Por que estamos aqui? – A questão do propósito.
Para onde vamos? – A questão do destino.
A Bíblia revela que fomos criados por um Deus amoroso que tem um propósito divino para nossa vida. Ele, algum dia voltará novamente para recriar definitivamente os céus e a terra em seu esplendor edênico.
A verdade da Criação também dá aos seres humanos o senso de valor e dignidade. Nossas raízes não nos levam à sopa primordial de moléculas selecionadas aleatoriamente, mas a um Deus pleno de sabedoria, inteligente que nos formou à Sua imagem (Gn 1:27). Estamos ligados pela humanidade comum (At 17:24-26). Deus é nosso amoroso Pai Celestial que Se importa profundamente conosco. Embora vivamos em um mundo caído, Sua presença está constantemente conosco para nos encorajar e fortalecer para enfrentarmos os desafios e os problemas da vida.
A evolução teísta afirma que existimos pelo acaso. Somos meramente moléculas ampliadas de proteínas com inteligência superior. Isso não provê qualquer senso de propósito, ou de esperança para a vida humana. Em essência, estamos sós no universo para lutarmos durante a vida sem nada além de nossa capacidades mentais para nos conduzir ao futuro. A evolução teísta declara que Deus criou a centelha da vida e então permitiu que ocorresse o processo natural. Ambas as teorias têm algo em comum: ambas rejeitam o relato da Criação em Gênesis. Elas nos deixam com algumas questões básicas sem resposta: se somos apenas animais avançados, qual é a base para a moralidade? De onde vem o amor? Como pode ser definido o certo do errado? Qual é a fonte da moral máxima e da autoridade espiritual?
Recriação e Segunda Vinda
Nossa compreensão bíblica da Criação está firmada no fundamento de duas ou mais verdades essenciais da Escritura. Se um Deus Todo-Poderoso criou este mundo, Ele tem o poder de transformar nossa vida. Não somos meros produtos de nossa hereditariedade e ambiente. Ao permitirmos a atuação do Espírito Santo, Cristo nos transforma. Não estamos fechados em um padrão genético fixo impossível de ser mudado. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (2Co 5:17) O Deus que criou este mundo pode recriar nossa vida. O Criador pode produzir uma nova criação em nós. Foi por isso que Davi pôde rogar: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável.” (Sl 51:10). Davi sabia que havia somente um Deus que podia bara um novo coração para ele. Seu poder é muito maior que todo o poder de nossa natureza caída ou de nosso ambiente pecaminoso. NEle nossa vida pode se tornar nova. Ele não nos deixou lutar com o pecado sem ajuda. O Deus Todo-Poderoso, que criou a luz das trevas, pode novamente suscitar luz das trevas de nossa vida. Ele criou a vida no princípio e tem o poder de nos dar um novo começo também.
A Evolução Mina a Identidade Adventista
O nome “adventista do sétimo dia” transmite duas verdades vitais para as verdades dos últimos dias: o sábado e a segunda vinda de Jesus. A evolução em suas formas ateísta e teísta, mina a ambas. Como já mostramos anteriormente neste artigo, realmente não há fundamento para o sábado se Deus não criou o mundo em seis dias. Por que estabelecer um memorial para algo que não existe? No melhor, a evolução teísta pode considerar o sábado como um período de descanso e companheirismo social, mas certamente não um memorial do Criador Todo-Poderoso que criou nosso mundo em seis dias consecutivos de 24 horas.
Considerando-se essa conclusão lógica, a teoria da evolução elimina a necessidade do retorno de nosso Senhor. Se a raça humana está evoluindo para algum tipo de super-raça, por que haveria a necessidade da segunda vinda de Cristo? Com a aparente decadência moral dramática de nosso mundo, é difícil discernir como a humanidade está avançando para qualquer tipo de iluminação que, por fim, levará à paz e à harmonia na terra. Ainda que esse fosse o caso, o que não é, mesmo assim não resolveria o problema da morte. A volta de nosso Senhor é a resposta mais lógica e relevante para a questão do sofrimento e da morte em nosso planeta.
Há esperança: Jesus virá novamente. Um dia a doença, as catástrofes e a morte cessarão para sempre. Um dia Deus criará novo céu e nova terra onde habita a justiça eterna (2 Pedro 3:13). Assim como Deus falou e houve o princípio, de igual forma Deus nos transformará “num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. [...]” (1Co 15:52)
O legado da rebelião de Lúcifer e de nossos primeiros pais fala em tons ensurdecedores. Exaltar a dádiva da razão dada por Deus acima da Palavra de Deus é catastrófico. Aceitar a evolução é abandonar a autoridade da Escritura, a salvação em Jesus Cristo e o poder recriador de Deus, o sábado e a segunda vinda de Jesus.
E esse é o preço muito alto para se pagar.

Mark A. Finley é pastor, evangelista, e administrador da igreja. Atuou como vice-presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia até 2010. Recentemente, uniu-se à equipe editorial da Adventist Review e à Adventist World como editor e também atua como assistente do presidente da Igreja mundial. Este artigo foi publicado em 12 de maio de 2011.

[1] Ellen G. White, A Fé Pela Qual eu Vivo, p. 24.
[2] Isto se aplica às formas qal e niphal do verbo. Os lexicógrafos não têm certeza se outras formas da palavra indicam o agente humano ou se simplesmente têm o mesmo som da raiz das palavras no hebraico.
[3] Em Gênesis 1 a maioria dos números são ordinais (salvo pelo primeiro dia). Para uma discussão proveitosa dos dados linguísticos, ver Gerhard F. Hasel, “The ‘Days’ of Creation in Genesis 1: Literal ‘Days’ or Figurative ‘Periods/Epochs’ of Time?” Origins 21, no. 1 (1994): 5-38.
[4] Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 111.