Existe
uma coisa que me assusta nesse movimento de popularização do MMA no
Brasil. Não importa se o esporte (?!) do momento, cheio de brasileiros
campeões, faz sucesso em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Manaus ou
alhures. Ele está em alta no mundo inteiro. Desde que sejam maiores de
idade e devidamente vacinados, cada um com seus problemas. Mas quando
chega às crianças, a luz vermelha acende. Ontem, durante a transmissão
do UFC na Globo, um pequeno garoto, na faixa dos 6 ou 7 anos de idade,
recebeu uma atenção generosa da transmissão. Devidamente “equipado” para
o evento, o menino aparecia com luvas idênticas às usadas pelos
lutadores, além de um traje semelhante a um quimono. O sorriso azulado
do menino revelou que até mesmo um protetor bucal ele fez questão de
usar.
O pequeno “gladiador do novo milênio”, alcunha inventada por Galvão
Bueno, se esforçou para copiar até as carrancas e os socos no ar dados
pelos profissionais do octógono. A transmissão deve ter realmente
apreciado a cena, pois ela foi reprisada poucos minutos depois, em
câmera lenta.
Além dele, contei pelo menos outros dois garotos com menos de 10 anos de
idade que foram filmados nas arquibancadas. Crianças que, pelo horário,
suponho, não deveriam estar ali.
Sou completamente leigo acerca das leis que regem sobre isso, mas basta
um mínimo de senso para saber que aquele ambiente não é o mais adequado à
infância, assistindo uma pancadaria gratuita, prato principal do UFC.
Quando a pessoa já tem um mínimo de caráter formado (seja bom ou mal),
as escolhas são feitas com naturalidade, há discernimento suficiente
para você ver uma briga e simplesmente não sair arrebentando qualquer um
por aí – imagino que este seja o caso dos apreciadores de artes
marciais, não sei. Geralmente, é na adolescência que passamos por esse
processo de discernir o que é certo do que é errado, o que é de bom
grado e o que é pura sacanagem. Mas quando ainda vivemos a infância,
temos a tendência de imitar quem nos rodeia.
Essas crianças não têm a menor ideia do que estão fazendo. Estão apenas
copiando nossos movimentos, mostrando, com toda aquela inocência da
infância, como somos ridículos.
(Fábio Monteiro, UOL)
Nota: É absurdo qualquer um assistir a essa rinha humana (a de
galos é proibida...), quanto mais crianças. Mas o pior é saber que há
cristãos, pretensos seguidores do pacifista Jesus de Nazaré, que se
deleitam em ver um homem espancar outro até lhe arrancar sangue. Isso,
sem dúvida, é parte do cumprimento da profecia de Jesus segundo a qual,
por se multiplicar o pecado, no fim dos tempos, o amor de muitos
esfriará (Mt 24:12). Só pode ser isso.
Nas férias em Santa Catarina, li algumas edições do Diário Catarinense e
fiquei feliz em ver que há mais pessoas inconformadas com essa invasão
de violência nos ringues e nas telas. No dia 28/12, em sua coluna,
Ancelmo Gois tratou do tema: “Veja aqui [foto abaixo] algumas caras
deformadas no MMA, publicadas no UOL. Quem chamou a atenção para essa
galeria de horrores foi mestre Zuenir Ventura, que, a exemplo deste
escriba, não entende o porquê de tanta celebração com estes sangrentos
gladiadores do século 21.”
Parabéns ao Ancelmo Gois pela coragem, especialmente levando em conta que o Diário pertence à RBS, afiliada da Globo (promotora do UFC) no Sul do Brasil.[MB]

