Centenas
de metros abaixo de uma das maiores geleiras da Islândia, há sinais de
uma iminente erupção vulcânica que pode ser a mais devastadora no país
em quase um século. O vulcão Katla, com sua cratera de 10 quilômetros,
tem potencial de causar enchentes catastróficas, derretendo a superfície
congelada de sua caldeira e varrendo a costa leste da Islândia com
bilhões de litros de água escorrendo em direção ao Oceano Atlântico.
“Tem havido grande atividade sísmica”, disse Ford Cochran, especialista
em Islândia da National Geographic. “Só no mês passado, houve mais de
500 tremores ao redor e na caldeira do Katla, o que indica a
movimentação de magma. E isso certamente indica que uma erupção pode ser
iminente.”
O Katla faz parte de um sistema vulcânico que inclui as crateras de
Laki. Em 1783, a cadeia ficou em erupção continuamente por oito meses,
gerando tantas cinzas e gases como fluoreto de hidrogênio e dióxido de
enxofre que um em cada cinco habitantes da Islândia morreram, além de
metade dos rebanhos e gado do país. “Na verdade, isso alterou o clima da
Terra”, diz Cochran. “Fala-se de um inverno nuclear - essa erupção
gerou gotículas de ácido sulfúrico suficientes para tornar a atmosfera
reflectiva, resfriar o planeta por um ano ou mais e gerou fome em muitos
lugares ao redordo planeta. Certamente esperamos que a erupção do Katla
não seja nada parecida com isso!”
Cientistas na Islândia vêm monitorando a região de perto desde o dia 9
de julho, quando parece ter havido algum tipo de atividade que pode ter
sido uma pequena erupção. Esse evento já causou uma inundação
significativa, que destruiu uma importante ponte, isolando várias partes
da ilha por muitos dias. “O evento do dia 9 de julho parece marcar o
começo de um novo período de efervescência do Katla, o quarto conhecido
nos últimos 50 anos”, diz o especialista Pall Einarsson, do Instituto de
Ciências Terrestres da Universidade da Islândia. “A possibilidade de
que haja uma erupção maior não pode ser excluída. O Katla é um vulcão
muito ativo e versátil. Ele tem uma longa história de grandes erupções,
algumas das quais causaram destruição considerável.”
A última grande erupção do Katla ocorreu em 1918, quando icebergs
acabaram sendo levados para o oceano pelas águas derretidas das
geleiras. Em 1755, o volume de água produzido após uma única erupção foi
equivalente àquele dos maiores rios do mundo combinados. [...]
Cientistas dizem que é muito difícil prever como será a erupção do Katla
e quais serão as consequências, já que isso depende de diversos
fatores. “Essa dificuldade fica muito aparente quando você compara as
duas últimas erupções na Islândia, a do Eyjafjallajokul em 2010 e a do
Grimsvotn em 2011”, diz Einarsson. “A do Eyjafjallajokull, que paralisou
o tráfego aéreo na Europa, foi uma erupção relativamente pequena, mas a
química incomum do magma, a longa duração e a variação do clima durante
a erupção fez com que ela gerasse problemas. Já a erupção do Grimsvotn,
em 2011, foi muito maior em termos de volume. Ela durou apenas uma
semana e as cinzas baixaram com relativa rapidez, então os efeitos não
foram muito notados, a não ser pelos fazendeiros do Sudeste da Islândia,
que ainda lidam com as consequências.” [...]
(Folha.com)
