Veremos
em breve um senhor de aparência distinta usando uma túnica longa e
branca andando entre os manifestantes do Ocupe Wall Street no Zuccotti
Park, em Nova York? O papa Bento XVI está se juntando ao movimento de
protesto? Bem, sim e não. Sim, o Conselho Pontifical para Justiça e Paz
do Vaticano fez uma crítica forte e profunda do sistema financeiro global
nessa semana, que traçou um paralelo das diversas críticas ao
capitalismo desregulado que ecoam pela Lower Manhattan e por cidades ao
redor do mundo. O relatório falava da “primazia de ultrapassar o ter”,
da “ética acima da economia”, e de abraçar a lógica do bem estar global.
Em uma batida contra aqueles que se opõem à regulação econômica
governamental, o conselho enfatizou “a primazia da política – que é
responsável pelo bem comum – acima da economia e finança”, comentou
favoravelmente sobre uma taxa de transações financeiras, e apoiou uma autoridade internacional para fiscalizar a economia global.
Mas membros do Vaticano foram cuidadosos ao dizer que seu relatório não
era uma resposta direta às demonstrações ao redor do mundo. “É uma
coincidência que compartilhemos algumas visões”, disse o bispo Mario
Toso, secretário do conselho. “Mas, no final das contas, essas são
propostas que são baseadas na razoabilidade.”
De fato, e isso pode ser um elogio maior aos ativistas dos “99%”. Esse
documento recebeu mais atenção do que poderia ter tido porque as
demonstrações aumentaram as preocupações aos problemas a que elas se
referem.
Mais adiante, a intervenção do escritório do Vaticano mostra que aqueles
protestando contra um sistema financeiro quebrado e injusto não estão
expressando um ponto de vista marginal. Eles estão ressaltando
preocupações compartilhadas por muitos, incluindo a Igreja Católica
Apostólica Romana. Desafiar o que os mercados globais têm moldado não é
extremo. Reflete, como disse Toso, razoabilidade. [...]
A encíclica de 2009 do papa Bento XVI, Caritas in Veritae, falava explicitamente da necessidade de uma autoridade política global para manter um olhar sobre uma cada vez mais integrada economia mundial. [...]
(Opinião e Notícia)
Nota: A despeito da pregação (correta) contra as injustiças
sociais e da denúncia (justa) das desigualdades entre os seres humanos, o
que o Vaticano está fazendo é, também, aproveitar uma onda, um momento
histórico/político para ampliar seu poder de influência. A mesma
“tática” foi adotada no que diz respeito à bandeira ECOmênica,
em que o papa tirou da manga o domingo como uma das “soluções” para o
problema do aquecimento global (e não nos esqueçamos de que a guarda do domingo
é uma das marcas do pretenso poder de Roma). Se veremos o homem
distinto de túnica branca entre as massas de manifestantes em Nova York?
Não sei. Mas que o veremos cada vez mais inserido no cenário
político-religioso mundial, isso, sim, veremos.[MB]
