Certo
sábado, enquanto participava como palestrante num seminário da União
Sul-Brasileira (USB) da Igreja Adventista do Sétimo Dia, fiquei
maravilhado com o encadeamento não combinado dos temas de estudo, a
começar pelo texto da Meditação Diária daquele dia. O pastor Rubem
Scheffel escreveu (no ano passado) que “nos dias finais em que vivemos,
chegamos a ficar surpresos quando nos deparamos com uma boa notícia nos
jornais ou na televisão. Só se ouve falar de acidentes, homicídios,
sequestros, atentados terroristas, enchentes, desabrigados e toda sorte
de calamidades, tanto em nosso país como no estrangeiro”. Depois, como
jornalista que é, avaliou: “Para a imprensa secular, a má notícia é que é
a boa. É a que faz manchete e vende. O povo de Deus, porém, não precisa
se abeberar dessas cisternas rotas. Não precisa e não deve ouvir
programas de rádio ou televisão em que homicídios, assaltos e outras
ocorrências violentas são dramatizadas com sensacionalismo e até com
ironia, procurando tornar a tragédia ‘engraçada’. Não precisa e não deve
ler jornais que destilam sangue e exploram o que há de pior na
sociedade.”
E concluiu: “Há mais de cem anos, quando a situação do mundo era
provavelmente cem vezes melhor do que a de hoje, Ellen White
[aconselhou]: ‘Quando os jornais chegam em casa, quase desejo
escondê-los, para que as coisas ridículas e sensacionais
[sensacionalismo] não sejam vistas. [...] Os que desejam ter a sabedoria
que vem de Deus devem tornar-se néscios no pecaminoso conhecimento
deste século, para serem sábios. Devem fechar os olhos, para não verem
nem aprenderem o mal. Devem fechar os ouvidos, para que não ouçam o que é
mau e não obtenham o conhecimento que lhes mancharia a pureza de
pensamentos e de ação’ (O Lar Adventista, p. 404).”
Depois de meditar nesse texto, fui para o auditório me unir aos
participantes do evento. Apresentei palestra sobre escolhas – escolher
entre o essencial e o bom. Chamei atenção para o texto de Ellen White e
testemunhei da experiência que vivo em meu lar. Desde que nossos filhos
nasceram, minha esposa e eu decidimos não mais assistir a telejornais
(praticamente os únicos programas de TV que ainda assistíamos). Nossas
crianças terão bastante tempo para saber que este mundo não presta.
Quando chego em casa, no fim da tarde, brincamos, lanchamos juntos, cada
um toma seu banho e conversamos sobre o dia. A essas alturas, já passa
das 20h e fazemos o culto familiar. As meninas gostam de cantar
bastante. Depois oramos e lemos a Bíblia Ilustrada Para a Família (da
CPB). Quando concluímos o culto, já é hora de dormir. Acredite-me: essa
boa rotina faz toda a diferença na vida familiar. O dia termina em paz,
sem o eco das notícias carregadas de sangue e violência que tiram a paz
de qualquer um cuja mente ainda não esteja amortecida pela constante
exposição a esse tipo de conteúdo. (Sinceramente, não consigo entender
as pessoas que se deleitam em assistir programas que vivem de mostrar as
mazelas, engarrafamentos das grandes cidades e crimes de toda espécie. O
que elas ganham com isso? Que relevância têm essas informações, esse
espetáculo macabro?)
Em minha palestra lá em Santa Catarina, procurei avançar um passo
além. Imaginando que os líderes que me ouviam já tinham consciência de
que não devemos ficar ciscando no lixo midiático, procurei deixar claro
que, embora também existam coisas relevantes que são exibidas em alguns
(poucos) programas de TV, elas não devem competir com o essencial. Mas o
que é esse essencial? Já chego lá.
Depois da minha palestra, o presidente da USB, pastor Marlinton
Lopes, e os presidentes das sedes administrativas da Região Sul nos
ajudaram a recapitular a lição da Escola Sabatina. O tema: escolhas.
Parecia tudo combinado mesmo (se a lição não fosse preparada anos antes
de ser traduzida e publicada em cada país). Mas teve mais: o pastor
Odaílson Fonseca, diretor da TV Novo Tempo, também falou sobre…
escolhas.
À tarde, apresentei outra palestra sobre como devemos nos relacionar
com os meios de comunicação, e levei os participantes a pensar na
seguinte citação de Viktor Frankl, ex-professor de Neurologia e
Psiquiatria da Universidade de Viena: “Vivemos numa sociedade de
superabundância; essa superabundância não é somente de bens materiais,
mas também de informações, uma explosão de informações. Cada vez mais
livros e revistas se empilham sobre as nossas escrivaninhas. Vivemos
numa enxurrada de estímulos sensoriais, não somente sexuais. Se o ser
humano quiser subsistir ante essa enxurrada de estímulos trazida pelos
meios de comunicação de massa, ele precisa saber o que é e o que não é
importante, o que é e o que não é essencial, em uma palavra: o que tem
sentido e o que não tem” (A Presença Ignorada de Deus, p. 70).
E o que é essencial, afinal? Paulo nos dá a dica: “Pensai nas coisas
lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Colossenses 3:2). As “coisas
do alto” são o essencial e merecem o melhor de nosso tempo e dedicação.
Deus, a família e os valores eternos – isso é o que realmente importa e
estará conosco para sempre.
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Michelson Borges
