Não
creio que a telepatia seja factual, mas sei que existem vários
fenômenos relacionados com a mente humana para os quais a ciência não
encontra respostas. Haveria o dedo do inimigo de Deus aí, tentando
enganar as pessoas? A mente humana teria, de fato, capacidades, quem
sabe atrofiadas depois do (e em decorrência do) pecado, e que poderão
novamente ser desenvolvidas após a libertação dessas amarras? Não sei e
não vem ao caso agora. O que quero destacar é a atitude nem um pouco
científica de um fundamentalista darwinista que procura sempre colocar
sua ideologia neoteísta acima das evidências: o biólogo Richard Dawkins,
autor, entre outros, do livro Deus, um Delírio.
Veja o que relatou o biólogo Rupert Sheldrake em seu blog:
“Richard Dawkins é um homem com uma missão – a erradicação da religião e
da superstição e sua substituição pela ciência e a razão. A Channel 4
TV tem-lhe repetidamente providenciado um púlpito através do qual
Dawkins pode pregar sua mensagem. A polêmica série de TV chamada
‘Inimigos da Razão’ (2 episódios) foi uma sequela de sua diatribe contra
a religião, ‘A Raiz de Todo o Mal?’ (2006). Pouco antes de a série
‘Inimigos da Razão’ ser filmada, a IWC Media (companhia da produção)
disse-me que Richard Dawkins queria me visitar para discutir minha
pesquisa sobre habilidades inexplicáveis de pessoas e animais. Eu estava
relutante em tomar parte nisso, mas a representante da companhia me
garantiu que ‘esse documentário, após insistência da Channel 4, seria
mais balanceado que ‘A Raiz de Todo o Mal’. Ela acrescentou ainda que
‘Estamos desejosos que isso seja uma discussão entre dois cientistas
acerca de modos científicos de investigação’. Assim, concordei e agendei
uma data.
“Eu ainda não sabia o que esperar. Será que Dawkins se comportaria de forma dogmática, com um firewall mental
bloqueando qualquer tipo de evidência que contradissesse suas crenças?
Ou será que ele seria mais mente aberta e divertido na conversa?
“O naturalista chegou. Foi-nos pedido que nos sentássemos frente a
frente; fomos filmados com uma câmara manual. Richard começou por dizer
que ele e eu concordaríamos em muitas coisas, ‘mas o que me preocupa é
que você está preparado para acreditar em praticamente tudo. A ciência
deveria ser baseada num número mínimo de crenças’.
“Eu concordei que nós tínhamos de fato muito em comum, ‘mas o que me
preocupa é que você passa uma imagem dogmática de si, dando uma má
impressão do que a ciência é’.
“Seguidamente, e num espírito romântico, ele afirmou que ‘gostaria de
acreditar em telepatia’, mas não havia evidência alguma para isso. Ele
ignorou todas as pesquisas em torno da questão. Ele comparou a falta de
aceitação da telepatia por parte de cientistas como ele com a forma como
o sistema de ecolocalização foi descoberto nos morcegos, seguido da sua rápida aceitação pela comunidade científica durante os anos 40 do século 20.
“Na realidade, como mais tarde descobri, Lazzaro Spallanzani tinha
mostrado em 1793 que os morcegos dependem da audição para encontrar seu
caminho, mas os oponentes céticos ignoraram as experiências dele e
ajudaram a atrasar as pesquisas em mais de um século. [Ou seja, o
consenso científico mais uma vez impediu o avanço da ciência.]
“No entanto, Richard reconheceu que a telepatia era uma mudança mais
radical que a ecolocalização. Ele disse que se realmente ela ocorresse,
isso haveria de ‘transtornar as leis da Física’, e acrescentou que
‘alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias’.
“‘Isso depende do que você considera como extraordinário’, respondi. ‘A
maioria das pessoas afirma que elas já experimentaram a telepatia
especialmente no que toca a chamadas telefônicas. Nesse sentido, a
telepatia é bem ordinária. A alegação de que a maioria das pessoas está
iludida em relação às suas próprias experiências é extraordinária. Onde
está a evidência extraordinária para isso?’
“Ele não ofereceu nenhuma evidência para isao à parte de argumentos
genéricos acerca da falibilidade do julgamento humano. Ele assumiu que
as pessoas querem acreditar no ‘paranormal’ devido a pensamento
desejoso.
“Concordamos então que mais experiências controladas eram necessárias.
Eu disse que era por isso que eu vinha fazendo tais experiências,
incluindo testes, de modo a verificar se as pessoas poderiam saber quem
estava ligando para elas pelo telefone, quando a pessoa que estava
ligando era escolhida aleatoriamente. Os resultados eram bem superiores
ao que seria de esperar ao nível do acaso.
“Durante a semana anterior, de modo a que ele pudesse ver os dados, eu
tinha enviado ao Richard cópias dos meus artigos publicados em jornais
submetidos à revisão por pares.
“Richard pareceu um bocado incomodado e disse: ‘Não quero discutir as
evidências.’ Eu perguntei: ‘Por que não?’ ‘Não há tempo. É demasiado
complicado. Além disso, não é para isso que este programa está sendo
feito.’
“A câmara parou. O diretor, Russel Barnes, afirmou que ele também não
estava interessado nas evidências. O filme que ele estava fazendo era só
mais uma polêmica ao estilo de Dawkins. Eu disse ao Russell: ‘Se você
vai tratar a telepatia como uma crença irracional certamente que as
evidências acerca da sua existência são essenciais para a discussão. Se a
telepatia ocorre, então não é irracional acreditar nela. Pensei que era
sobre isso que haveríamos de falar. Fui bem claro desde o princípio que
não estava interessado em tomar parte em mais um exercício de
falsificação de baixo nível.’
“Richard disse: ‘Isto não é um exercício de falsificação de baixo nível, mas, sim, um exercício de falsificação de alto nível.’
“‘Nesse caso’, disse eu, ‘houve um mau entendimento, porque fui levado a
acreditar que isto seria uma discussão científica equilibrada acerca
das evidências.’
“Russell pediu para ver os e-mails que eu tinha recebido de sua
assistente. Ele leu-os com óbvia consternação e disse que as certezas
que ela me tinha dado estavam erradas.
“A equipe de filmagem empacotou o equipamento e saiu.
“Richard Dawkins há muito proclamou que ‘o paranormal é uma fraude’.
Todos aqueles que tentam vendê-lo são uns falsos e uns charlatães. A
série ‘Inimigos da Razão’ tinha como propósito popularizar essa crença.
Mas será que essa cruzada dele promove realmente um ‘entendimento
público da ciência’, matéria que ele leciona em Oxford? Deveria a
ciência ser um veículo de preconceito, uma variante de um sistema de
crenças fundamentalistas? Ou deveria ser um método de investigação para
dentro do desconhecido?”
Nota: Mais uma vez vemos o fundamentalismo neoateísta de Dawkins
em ação. O homem que se recusa a debater com “gente grande” (não tem
aceitado os convites para um debate com o Dr. William Lane Craig) e que doutrina crianças no ateísmo, enquanto admite não ter como provar que Deus não existe (embora afirme na capa de seu livro polêmico
que Deus é um “delírio”) não manifesta uma atitude científica em todos
os casos. A verdadeira atitude científica deveria seguir as evidências
levassem aonde levassem. Dawkins diz que não tem interesse em discutir
as evidências e isso me mostra por que ele tem tanta aversão ao
criacionismo. Acredito que as premissas criacionistas contam com muito
mais evidência empírica do que a telepatia, a homeopatia,
o espiritualismo e outros. No entanto, por falta de conhecimento das
pessoas (de Dawkins, inclusive), o criacionismo é frequentemente
colocado no mesmo nível de certas concepções místicas infundadas (a
menos que as olhemos com as lentes do sobrenatural). Ainda que não
concordemos com o objeto de pesquisa de Sheldrake, uma coisa é certa:
ele é um cientista interessado na pesquisa da telepatia e, como um
verdadeiro cientista, gerou hipóteses, fez testes e chegou a algumas
conclusões. E Dawkins, o que tem feito? Abraçou a filosofia naturalista e
ignora vez após vez toda e qualquer evidência que contradiga sua
crença. Quem é mais científico, nesse caso? A verdade é óbvia.[MB]
