terça-feira, 4 de outubro de 2011

Suando para ver Deus

A atividade física é indicada como remédio em vários casos. Mas qual o seu poder de cura quando se trata de espiritualidade? Já é sabido que a mente e o corpo mantêm uma forte interdependência. Aliás, a medicina elevou bastante seus conceitos e métodos logo que percebeu esta irreversível ligação. Mas, embora para o mundo ocidental pareça que esta seja uma descoberta recente, cuja popularização esteja alcançando seu ápice em nossos dias, é possível traçar comparativos do passado e do presente que evidenciem a dinâmica que envolve o corpo e a mente. Seria uma coincidência paradoxal observar o fato de que a era tecnológica trouxe consigo, além das benesses do conforto, o aumento de doenças relacionadas a pisque, ou seja, da mente, incluindo as de ordem emocional? É como se hoje todos os diagnósticos transitassem pelo badalado estresse.
Do infarto à obesidade ou depressão, não há quem dele escape. Por outro lado, não há também quem escape da receita básica que, ao final de toda consulta, se torna item de destaque: a prática do exercício físico. O corpo está em constante atividade. Até mesmo quando dormimos, os órgãos vitais cumprem seu papel, garantindo assim a ininterrupção da vida. Sendo assim, a dedução óbvia é que da mesma maneira que o corpo prolonga a existência, agindo involuntariamente, a inatividade, por sua vez, tenderia a minar o desenvolvimento não só da matéria humana, mas de tudo aquilo que a constitui, inclusive a espiritualidade. É verdade que no que diz respeito à visão holística sobre a espécie humana, há quem não concorde ou duvide de que somos constituídos de espiritualidade.
A medicina oficial, por exemplo, ainda investiga tal possibilidade. No entanto, muitos especialistas já escrevem sobre o tema. Segundo o doutor em Pedagogia, Almiro Shulz, e suas pesquisas, é cientificamente provado que o ser humano possui espiritualidade. Mas não para por aí. Psicólogos, dentre outros estudiosos da mente, também vêm não só discutindo, mas confirmando a dimensão espiritual do ser, apoiada já por Agostinho, séculos atrás. Fernando Travi, psicólogo e precursor do higienismo – uma filosofia de vida e ciência da saúde –, ensina que a saúde integral e o encontro com Deus dependem de alimentação saudável e regularidade nos exercícios físicos, dentre outros preceitos que proporcionam o prazer através de ações corretas. Para Maria do Carmo Rabello, autora do livro Inteligência Espiritual, graduada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo – USP e pós-graduada em Psicologia, viver ultrapassa a esfera bio-psico-social. De acordo com ela, a extensão espiritual nos conecta a Deus, o originador de tudo e, por isso, único Ser capaz de elevar nosso status à vida plena.
Exercício físico e reforma espiritual - Considerando que estes profissionais estejam certos, não seria nada absurdo ligar o exercício físico, que faz bem ao corpo e age sobre a mente, à conexão com o transcendente. Para a escritora norte-americana Ellen G. White, existe uma íntima relação entre a mente e o corpo, e, “a fim de atingir-se uma elevada norma de alcance moral e intelectual, devem ser atendidas as leis que governam o nosso ser físico. Para se conseguir um caráter forte e bem equilibrado, tanto as faculdades mentais como as físicas devem ser exercitadas e desenvolvidas. Que estudo pode ser mais importante do que aquele que trata deste maravilhoso organismo que Deus nos confiou, e das leis pelas quais ele pode ser preservado em saúde?”, diz. Não é tão complicado, então, entender que o exercício físico tem grande influência quando se trata de vida espiritual, de respiração da alma como denominam alguns. É uma cadeia lógica: a saúde física e a saúde mental dependem uma da outra, e quando uma delas falha são desencadeadas as chamadas doenças psicossomáticas. E se a mente, isto é, o cérebro – celeiro da razão, emoção e memória, além de muitos referentes – se beneficia com a atividade física, isso indica que a espiritualidade ganha, pois é pela mente que Deus nos fala. Certamente, uma pessoa debilitada em menor ou maior grau, terá mais dificuldade em perceber a iniciativa divina de Se comunicar com ela. Não é à toa que a cada dia cresce o número de adeptos a atividades que mesclam exercício e meditação. O infinito se comunica com o finito por este portal: a mente. Empregando Suas habilidades, Deus impressiona com mais eficácia a mente sadia. Quando o corpo adoece, sentimo-nos mais fragilizados e vice-versa, pois se a mente não vai bem, é o corpo quem paga o preço. E quando ambos ficam comprometidos, é a vida espiritual que se atrofia.
Pluralismo - Vivemos um período não dogmático; tão pouco categórico. O pluralismo manifesto em incontáveis segmentos é a grande marca desta época. Ao mesmo tempo em que algumas classes rejeitam tudo o que não é palpável, outras, em busca de sentido, se apegam ao que não se vê. Reforma espiritual é o que este segundo grupo procura. Vida harmônica, mudança de direção, reciclagem filosófica, tudo isso não adquirido pelo caminho mais fácil nem pelo imediatismo místico, mas graças à ação disciplinadora que regula o apetite, o sedentarismo e os pensamentos. Os interessados na reconstrução de si mesmos sabem que a espiritualidade se reflete no bom caráter, na moral sólida e no equilíbrio, características conquistadas, em parte, com apoio desportivo. Sem dúvida, os exercícios físicos, especialmente os praticados ao ar livre (lembrando que são gratuitos), liberam substâncias curativas no cérebro e consequentemente no corpo, nos tornando mais saudáveis. O contato com a natureza, agregado a uma boa série de exercícios, são aliados poderosos, e trabalham como soldados no combate às doenças modernas. Não há como fugir, a reforma espiritual passa pelo suor da corrida ou dos pesos levantados bravamente na academia após o expediente. A mente sobrecarregada pelo acúmulo das responsabilidades diárias só recebe alívio após uma boa dosagem de esforço corporal. E mente aliviada é sinônimo de ouvido mais sensível aos apelos que Deus, pessoalmente, nos faz, convidando-nos a passar um tempo a sós com Ele, a fim de que nos completemos ao contemplá-Lo.
 Ágatha Lemos é jornalista