Um
erro grave cometido por muitos cristãos atuais é ler o Antigo
Testamento como se ele tivesse sido escrito no século 21 e para nós,
ocidentais. Ao lermos o texto bíblico, precisamos nos lembrar de que ele
foi escrito no Oriente Médio, no 2º e 1º milênios antes de Cristo.
Acredite, pois isso resolve muitos problemas! Em lugar de comparar leis e
práticas de Levítico, Números e Deuteronômio com leis atuais, compare
com os códigos de leis dos povos daquela região e época.
Ilustraremos isso com o caso da escravidão. Deus permitiu a escravidão?
Sim. Essa foi a primeira lei que Deus deu aos israelitas, quando eles
saíram do Egito (cf. Êxodo 21:1-11). Mas não tire conclusões
precipitadas disto. Veja como era a escravidão em Israel: Na lei
mosaica, sequestrar alguém para ser vendido como escravo era um crime
punido com pena capital (Êxodo 21:16). Um escravo hebreu deveria
trabalhar apenas seis anos para pagar sua dívida, sendo liberto no
sétimo ano sem pagar nada (Êx 21:2). Além disso, ele deveria receber de
seu proprietário alguns animais e alimentos para começar a vida
novamente (Deuteronômio 15:13, 14)(1). Durante seu período de serviço,
o(a) escravo(a) teria um dia de folga semanal, o sábado (Êxodo 20:10).
Notou alguma diferença entre a escravidão bíblica e aquela mantida em
nosso país, há alguns séculos? A diferença também é significativa quando
comparamos essas passagens bíblicas com o famoso Código de Hamurabi,
rei de Babilônia, no 18º século a.C. Se algum escravo fugisse, ele
deveria ser morto; enquanto que, em Israel, esse escravo deveria ser
protegido (Deuteronômio 23:15, 16). Proteger um escravo fugitivo, em
Babilônia, era uma grande ofensa, também punida com morte, como
evidenciado nas leis 15-20 do referido código. (2)
Alguém pode questionar o motivo pelo qual Deus não aboliu a escravidão
entre os israelitas. Lembre-se de que eles estavam inseridos numa
cultura impregnada dessa prática. Mesmo que Deus a abolisse, isso não
mudaria a forma como eles pensavam. A título de ilustração, imagine o
árduo processo cultural para tornar a Arábia Saudita em uma democracia!
Mesmo que essa mudança fosse feita, ainda levaria um bom tempo até que a
mentalidade da nação fosse mudada. No entanto, a legislação israelita
oferecia um tratamento muito mais humano para os escravos, colocando
escravo e senhor em pé de igualdade (cf. Jó 31:13-15).
Luiz Gustavo Assis é pastor
Artigo originalmente publicado em http://www.outraleitura.com.br/web/artigo.php?artigo=523:Deus_e_a_escravidao
