Infelizmente, não posso responder por você!
Em meados do século XIX uma
jovem adventista, chamada Ellen, começou a afirmar que estava recebendo
revelações da parte de Deus, através de sonhos e visões. Bom, isto muita
gente já disse! Como saber se ela estava falando mesmo a verdade? Já
que “o papel aceita tudo”, quem disse que ela realmente escreveu movida
pelo Espírito Santo, e não apenas pelos seus próprios desejos? Este
artigo pretende mostrar que se você leva a sério a vida eterna e se é
Adventista do Sétimo Dia (ou mesmo se não é) estas perguntas não podem
ficar sem respostas, a não ser com perigo para a salvação.
Na verdade, ninguém deveria aceitar
automática e passivamente a qualquer um que se autoproclame profeta.
Precisamos abrigar uma medida saudável de suspeita porque Jesus mesmo
disse que um pouco antes de Sua vinda, surgiriam “falsos cristos e
falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se
possível, os próprios eleitos” Mat 24:24. Então, quem disse que Ellen G.
White não é parte desta armação do engano? Acreditar que Ellen G. White
possui autoridade profética apenas porque a Igreja assim prega ou
porque aquele pastor a quem você admira assim acredita, não é algo
honesto, e é uma atitude no mínimo irresponsável.
Talvez, por esta razão é que algumas pessoas
resolvem assumir uma postura de eterna suspeita, e de cima do muro do
ceticismo, simplesmente resolvem não ler nem avaliar qualquer nova
manifestação que tenha a ver com sonhos e visões de origem sobrenatural
enquanto não “sentirem” confiança. Para estes, preciso dizer que, deste
modo, a confiança nunca virá! Além disso, o critério do “sentir” além de
ser muito enganoso (Jr 17:9), não é bíblico.
Mas o que ela afirma a respeito da origem de
seus escritos? “Nestas cartas que escrevo, nos testemunhos que dou,
estou vos apresentando aquilo que o Senhor me tem apresentado. Não
escrevo nenhum artigo, expressando meramente minhas próprias ideias.
Eles são o que Deus me tem exposto em visão.” Ellen G. White (I
Mensagens Escolhidas, 29).
É uma declaração no mínimo pretenciosa, para
não dizer audaciosa! “… Nenhum artigo expressando… minhas próprias
ideias… Eles são o que Deus me tem exposto em visão.” Não existe nesta
declaração da autora nenhuma margem para a tal autoridade “pastoral”.
Ela está claramente reivindicando para si uma autoridade profética, e
diante disto, cada um de nós é forçado a tomar uma posição. Ou ela está
dizendo a verdade, e fala mesmo da parte de Deus, ou está blefando de
forma vergonhosa! Neste caso, de onde então viria sua inspiração?
Se estiver mentindo (e não falou da parte de
Deus), então sua inspiração vem de outro lado. Satanás é o pai da
mentira. E, nesse caso, se você é adventista, continuaria membro de uma
igreja que publicaria livros com esta origem?? É por esta razão que não
creio ser possível para alguém ser um adventista honesto e ignorar este
assunto. Ele demanda uma decisão!
A verdade é que pessoas honestas e prudentes
nunca são mesmo as primeiras a aceitar qualquer nova manifestação do dom
profético. Por essa razão, ao receber os primeiros sonhos e visões,
Ellen G. White foi considerada com muita suspeita por parte da igreja
daquela época, o que penso que foi algo positivo. Revela que a igreja
não era composta por um grupo de inocentes e incautos, incapazes de
suspeitar de qualquer possível engano.
No entanto, não é possível permanecer
eternamente neste estágio de suspeita sem sério risco de perda
espiritual. (É certo que o próprio conceito de “fé” já pressupõem que
necessitamos crer, mesmo que nem sempre seja possível acabar com todas
as dúvidas). Mas quem sempre rejeita a toda manifestação profética
sobrenatural, tem como vantagem não cair por prêsa dos impostores. O
problema é que, por fim, vai acabar desprezando também o Espírito Santo
que é o originador de toda verdadeira revelação profética (II Pd
1:19-21). E é para evitar que alguém se torne completamente surdo à Sua
voz, que Paulo adverte: “Não apagueis o Espírito. Não desprezeis
profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de
toda forma do mal” I Tessalonicenses 5:19-22.
Neste texto está subentendido que quando
alguém, seja por ignorância, comodismo ou rebelião, despreza a
verdadeira manifestação profética, corre sério risco de “apagar o
Espírito”, e então perder a vida eterna. Mas como então descobrir qual
manifestação é verdadeira e qual é falsa? Em seguida Paulo explica o que
um cristão sincero deve fazer: “julgai [examinai] todas as coisas,
retende o que é bom”, e rejeite completamente o mal.
Isto quer dizer que não podemos confiar na
crença de outros (crença vicária). Cada um precisa examinar (“julgai”)
todas as coisas e reter apenas o que é bom. Os bereanos foram
considerados mais nobres porque, diante de uma nova luz, sempre nutriam
uma suspeita saudável e examinavam tudo para chegar a uma conclusão (At
17:11).
E qual era o critério utilizado para examinar
todas as coisas? O próprio exemplo dos bereanos nos mostra que
comparavam toda nova luz com a luz anterior, ou seja, com as Escrituras.
Se não houver concordância com a revelação anterior, então a
subsequente é falsa (Is 8:20).
Então, quem abriga um contínuo espírito de
suspeita, imaginando ser isso um indicativo de inteligência, mas nunca
leu seriamente os escritos de Ellen G. White, comparando-os com a
Bíblia, “para ver se as coisas são assim”, demonstra que sua dúvida não é
sincera, nem nobre, nem honesta, mas afasta seu possuidor do estudo e
da pesquisa.
Bem, e a resposta à pergunta do título?
Infelizmente, não posso responder por você. E também não seria honesto
de minha parte (e nem bíblico) sugerir uma crença antes do exame, ou
seja, sem ler. O que fiz, há anos, foi começar a ler, com uma boa medida
de suspeita, comparando os escritos de Ellen G. White com a Bíblia. Se
tivesse encontrado qualquer coisa em desacordo com a Bíblia, eu
rejeitaria tudo (e neste caso, para ser coerente, teria que me afastar
também da igreja que publica seus livros). Continuo examinando
diariamente seus escritos até hoje. Estabeleci um mínimo para ler todos
os dias, sempre após a leitura da Bíblia (primeiro, sempre deve vir a
Palavra de Deus – o referencial). O que posso dizer, é que, depois da
Bíblia, estes escritos tem sido para mim uma grande fonte de orientação,
de repreensão, e de consolo, aumentando minha fé e fortalecendo
grandemente a caminhada de minha família com Deus. E cada dia minhas
suspeitas diminuem… Continuo examinando…
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Marcos Faiock Bomfim, coordenador de Reavivamento e Reforma da Igreja Adventista em oito países da América do Sul
